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Ação imunológica à distância

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Ação imunológica à distância

Pesquisadores do MIT desenvolvem plataforma à base de gel - para administração de medicamentos - que pode provocar resposta imunológica em todo o sistema de tumores metastáticos


Por MIT Technology Review Brasil

Em 1953, o British Journal of Radiology trazia um estudo para explicar um fenômeno conhecido como efeito abscopal. Abscopal é uma palavra de origem latina, em que “ab” quer dizer longe e “scopal” significa alvo. O conceito refere-se ao fato de haver remissão de um tumor cancerígeno à distância do local primariamente irradiado, um evento extremamente raro, porém possível.

Atualmente os pesquisadores buscam encontrar métodos para induzir o efeito abscopal. Uma das hipóteses é de que esse fenômeno ocorre quando células tumorais mortas ou danificadas liberam antígenos que ensinam alguns tipos de células imunológicas a reconhecer e atacar outras células cancerígenas, mesmo distantes. O tumor tratado assume um comportamento semelhante ao de uma vacina: impulsionando o sistema imunológico a atacar tumores metastáticos. O uso de adjuvantes imunológicos é tido como um caminho para atingir o efeito abscopal, manejado com sucesso em laboratório, mas ainda apresentando desafios em testes clínicos.

Isso porque as imunoterapias podem levar a toxicidades graves se administradas através da corrente sanguínea, elas devem ser administradas diretamente no tumor, o que é extremamente difícil. Com o intuito de resolver essa dificuldade, pesquisadores do MIT e do Mass General Brigham, desenvolveram um sistema de aplicação de gel polimérico que é visível em tomografia computadorizada ou ultrassom, e solidifica após a injeção, de forma que ele permanece no tumor para liberar medicamentos com taxas controladas.

Durante a pesquisa os cientistas chegaram à conclusão de que o medicamento injetado precisaria estar líquido em temperatura ambiente durante a injeção e depois solidificar dentro do tumor para evitar vazamentos. Para otimizar a distribuição, o gel precisaria transportar uma elevada concentração de fármaco num pequeno volume e depois liberar a sua carga útil de forma controlada durante vários dias. A equipe planejou adicionar um agente de contraste iodado e clinicamente aprovado para torná-lo visível em uma tomografia computadorizada para ajudar os médicos a confirmar que injetaram o material com sucesso.

“Como radiologista, posso ver tumores na tomografia computadorizada ou no ultrassom, mas não consigo ver os medicamentos que me pedem para injetar. Por isso que desenvolvemos uma formulação para um imunoadjuvante promissor que poderia ser guiado por imagem por ambas as modalidades. Esperançosamente, esta plataforma deverá concretizar a imensa promessa das vacinas personalizadas contra o câncer”, avalia Avik Som, residente em radiologia intervencionista e diagnóstica do MGH e co-autor do estudo.

O gel foi testado em camundongos com tumor duplo de câncer de cólon e de mama. A equipe usou o gel para administrar medicamento imunoestimulante em combinação com terapia de bloqueio de checkpoint. Cada rato tinha dois tumores do mesmo tipo, mas apenas um tumor foi tratado e o resultado foi melhora na sobrevida, assim como regressão completa dos dois tumores, os tratados e os não tratados. Os dados foram publicados na revista científica Advanced Healthcare Materials.

Os pesquisadores aguardam a aprovação do gel pela agência regulatória norte-americana, e já trabalham com parceiros da indústria para adaptar o produto para o tratamento de outros tipos de tumores.

Este texto é um conteúdo adaptado, publicado originalmente pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos. Disponível em:
https://news.mit.edu/2023/immune-action-distance-1130

GileadPro: BR-UNB-0782