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Detectar e monitorar o câncer

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Pesquisadores melhoram capacidade para detectar e monitorar o câncer

Com o aprimoramento da biópsia líquida, um exame de sangue que identifica um biomarcador específico, há esperança de tornar o diagnóstico mais democrático.


Por MIT Technology Review Brasil

Hoje uma das promessas em termos de combate ao câncer chama-se biópsia líquida, um exame de sangue que tem capacidade de detectar um biomarcador específico sobre um tipo de neoplasia. Isso é possível porque os tumores liberam constantemente DNA das células mortas e esse DNA circula na corrente sanguínea antes de ser decomposto. Contudo, a quantidade de DNA tumoral que circula em qualquer momento é extremamente pequena, tornando desafiador o desenvolvimento de testes sensíveis o suficiente para captar esse pequeno sinal, o que também torna a tecnologia extremamente cara.

Agora, uma equipe de pesquisadores do MIT e do Broad Institute do MIT e Harvard descobriu uma maneira de aumentar significativamente esse sinal, retardando temporariamente a depuração do DNA tumoral que circula na corrente sanguínea. Os pesquisadores desenvolveram dois tipos de moléculas injetáveis que conseguem interferir na capacidade do corpo de remover o DNA tumoral.

Basicamente o corpo humano usa duas estratégias para remover o DNA circulante da corrente sanguínea: uma por meio de enzimas decompositoras; outra, com células imunológicas conhecidas como macrófagos, que absorvem o DNA livre de células à medida que o sangue é filtrado através do fígado. No primeiro caso, os cientistas desenvolveram um anticorpo monoclonal que se liga ao DNA circulante e o protege das enzimas.

“Os anticorpos são modalidades biofarmacêuticas bem estabelecidas e são seguros em vários contextos de doenças diferentes, incluindo câncer e tratamentos autoimunes. A ideia era: poderíamos usar esse tipo de anticorpo para ajudar a proteger temporariamente o DNA da degradação pelas nucleases que estão em circulação? E ao fazer isso, mudamos o equilíbrio para onde o tumor está gerando DNA um pouco mais rápido do que está sendo degradado, aumentando a concentração em uma coleta de sangue”, diz J. Christopher Love, um dos autores do estudo.

O outro agente desenvolvido é uma nanopartícula projetada para impedir que os macrófagos absorvam DNA livre de células. Essas células têm uma tendência bem conhecida de consumir nanopartículas sintéticas.

“O DNA é uma nanopartícula biológica e fazia sentido que as células imunológicas do fígado provavelmente estivessem absorvendo isso da mesma forma que fazem com as nanopartículas sintéticas. E se fosse esse o caso, e que acabou sendo, então poderíamos usar uma nanopartícula falsa para distrair essas células imunitárias e deixar o DNA circulante sozinho para que pudesse estar numa concentração mais elevada”, conta o professor do MIT, Sangeeta Bhatia.

Após a injeção de qualquer um dos agentes de preparação, leva uma ou duas horas para que os níveis de DNA aumentem na corrente sanguínea e, então, retornem ao normal em cerca de 24 horas.

Os pesquisadores testaram os agentes em ratos transplantados com células cancerígenas que tendem a formar tumores nos pulmões. Duas semanas após o transplante das células, os investigadores demonstraram que os agentes poderiam aumentar a quantidade de DNA tumoral circulante em uma amostra de sangue em até 60 vezes.

A pesquisa publicada na revista científica Science traz os dados de que as moléculas criadas foram capazes de aumentar os níveis de DNA o suficiente para que a percentagem de metástases pulmonares detectáveis em fase inicial saltasse de menos de 10% para mais de 75%.

“Você pode dar um desses agentes uma hora antes da coleta de sangue, e isso torna visíveis coisas que antes não seriam. A implicação é que deveríamos ser capazes de fornecer a todos que fazem biópsias líquidas, para qualquer finalidade, mais moléculas com as quais trabalhar”, avalia Bhatia.

As biópsias líquidas são utilizadas hoje principalmente para identificar mutações que poderiam ajudar a orientar o tratamento. Com maior sensibilidade nesse tipo de exame, os testes poderiam tornar-se úteis e acessíveis para um número muito maior de pacientes, permitindo não apenas um diagnóstico mais precoce do câncer, mas também uma detecção mais sensível de mutações tumorais. A detecção precoce do câncer é outra aplicação promissora para esses agentes.

“Um dos maiores obstáculos para o teste de biópsia líquida de câncer tem sido a escassez de DNA tumoral circulante em uma amostra de sangue. É, portanto, encorajador ver a magnitude do efeito que conseguimos alcançar até agora e imaginar o impacto que isso poderia ter para os pacientes”, analisa Viktor Adalsteinsson, diretor do Gerstner Center for Cancer Diagnostics do Broad Institute.

Após a publicação da pesquisa, os autores criaram uma empresa chamada Amplifyer Bio, que planeja desenvolver ainda mais a tecnologia, na esperança de avançar para os ensaios clínicos.

“Um tubo de sangue é um diagnóstico muito mais acessível do que a colonoscopia ou mesmo a mamografia. Em última análise, se essas ferramentas forem realmente preditivas, então deveríamos ser capazes de incluir no sistema muito mais pacientes que poderiam se beneficiar da interceptação do câncer ou de uma terapia melhor”, celebra o professor Bhatia.

Este texto é um conteúdo adaptado, publicado originalmente pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos. Disponível em:
https://news.mit.edu/2024/researchers-improve-blood-tests-ability-detect-monitor-cancer-0118

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