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Drones no combate à dengue

Mosquitos machos estéreis do Aedes aegypti disseminados em voos é aposta de startup brasileira para amenizar surtos da doença.


Por MIT Technology Review Brasil

Nos quatro primeiros meses de 2024, o Brasil registrou quase 4 milhões (3.852.901) de casos prováveis de dengue segundo o Painel de Monitoramento das Arboviroses, do Ministério da Saúde. O número é mais que o dobro de casos prováveis identificados durante todo o ano de 2023 (1.649.144).

A situação é preocupante não apenas no Brasil, mas trata-se de um cenário global. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença afeta até 400 milhões de pessoas por ano, uma estatística que há 20 anos era oito vezes menor. Especialistas apontam que esse cenário é impulsionado por questões climáticas. Com o aumento da temperatura do planeta, os mosquitos se proliferam com mais facilidade.

Uma startup em São Paulo vem trabalhando em uma solução possível para amenizar a proliferação dos insetos: drones que liberam mosquitos machos estéreis. A empresa se chama Birdview e já utilizou essa técnica para combater pragas na agricultura. Ações que buscam introjetar no meio ambiente mosquitos machos estéreis do Aedes aegypti para reduzir o potencial reprodutivo das fêmeas não são inovadoras, porém esbarram em uma dificuldade: a de instalar esses insetos modificados em cantos de acesso custoso.

Foi pensando nisso que o engenheiro e fundador da Birdview, Ricardo Machado, teve a ideia de usar sua tecnologia – drones que conseguem transportar 17 mil mosquitos por voo de 10 minutos sobre uma área de 10 hectares – para ajudar no combate à dengue.

“O desafio é entrar nesses lugares escondidos. É raro encontrar criadouros do Aedes aegypti a céu aberto, como numa calçada, porque quando as pessoas os veem, os destroem. Mas com os drones podemos entrar em áreas que de outra forma não conseguiríamos”, comenta Machado.
A eficácia da solução vem sendo analisada desde 2021 pela startup em conjunto com parceiros como a Universidade de São Paulo (USP) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Os experimentos observaram como o mecanismo do drone, as condições externas e a turbulência do vento afetavam a taxa de sobrevivência dos mosquitos e a sua capacidade de voar. Os testes foram feitos em estados brasileiros e no exterior, na Flórida, Estados Unidos, por meio de uma parceria com o Distrito de Controle de Mosquitos do Condado de Lee, usando métodos de soltura e recaptura dos mosquitos previamente marcados, e de monitoramento em armadilhas fixas. Os resultados foram positivos e, ao que tudo indica, a tecnologia funciona bem.

Em paralelo, a Birdview está ampliando as pesquisas, negociando com diferentes biofábricas que esterilizam Aedes aegypti machos e com outras que criam os chamados mosquitos Wolbachia (Aedes aegypti injetados com a bactéria Wolbachia e que não podem mais transmitir vírus como a dengue).

O modelo de negócio é considerado promissor, mas ainda restam dúvidas sobre a sua viabilidade financeira. O engenheiro Ricardo Machado diz que a Organização das Nações Unidas (ONU) já contribuiu com o financiamento para projetos semelhantes em países em desenvolvimento. Ele destaca ainda a possibilidade de a estratégia ser escalada para outras doenças e vetores: “Isso não precisa ser usado apenas para combater o mosquito Aedes aegypti e as doenças que ele espalha. Também pode ser usado para combater a malária”.

Este texto é um conteúdo adaptado, publicado originalmente por MIT Technology Review, nos Estados Unidos. Disponível em
https://www.technologyreview.com/2024/03/21/1090033/startup-fight-dengue-drones/

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