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Medicamentos de código aberto podem ajudar na próxima pandemia

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Medicamentos de código aberto podem ajudar na próxima pandemia

Dados do projeto Covid Moonshot – iniciativa para desenvolver antivirais contra o coronavírus que contou com mais de 200 pesquisadores voluntários – são publicados na Science.


Por MIT Technology Review Brasil

A pandemia de Covid-19 trouxe grande visibilidade para os laboratórios públicos e privados, em função das diversas iniciativas para fabricação de vacinas e medicamentos. Durante a emergência sanitária, alguns cientistas fizeram um questionamento: seria possível tirar o lucro da equação de descoberta e disponibilização de drogas no mercado farmacêutico? Em resposta, o grupo mobilizado pelo engenheiro do Instituto Weizmann de Ciência, Nir London, criou o projeto Covid Moonshot, uma iniciativa de ciência aberta para desenvolver antivirais contra o coronavírus que contou com mais de 200 pesquisadores voluntários de 25 países.

Os resultados foram publicados na revista cientifica Science em novembro de 2023. Depois de sintetizar 2.400 compostos, os pesquisadores dizem que chegaram em uma fórmula promissora que tem como alvo a principal enzima viral do coronavírus. A enzima, conhecida como Mpro corta proteínas virais longas em pedaços curtos (fundamental na replicação viral) e o composto impede o funcionamento desta enzima. É o mesmo princípio de um dos antivirais comerciais que estão no mercado.

Segundo Charles Mowbray, diretor de descobertas da organização sem fins lucrativos Drugs for Neglected Diseases Initiative e participante do Covid Moonshot, ainda levará mais alguns anos para transformar a fórmula em um medicamento de fato, ainda assim, avalia que com o método colaborativo foi possível chegar ao composto muito mais rápido do que a maioria dos demais medicamentos e defende a descoberta para o futuro: “embora o desenvolvimento de outro medicamento agora, possa não parecer tão urgente como antes, “a necessidade de outro antiviral que esteja pronto para a próxima pandemia ou para o próximo surto ou para a próxima variante é ainda muito relevante”, acrescenta Mowbray.

A necessidade de investimento em pesquisas na área é consenso entre os cientistas, de acordo com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, há 10 famílias de vírus com potencial pandêmico. Algumas destas famílias contêm vírus que já ouvimos falar, como ebola e sarampo; outros ainda obscuros para a ciência como os vírus da família Bunyavirales.

“Temos medicamentos antivirais para a varíola e agora para o coronavírus, mas para muitas das famílias de vírus não temos qualquer terapia. Nenhuma pílula. Nenhum anticorpo. Nada. Esse pode ser um problema que o desenvolvimento de medicamentos de código aberto poderia resolver”, diz Charles Mowbray.

A vantagem do projeto Covid Moonshot é o modelo de código aberto, ou seja, acessível globalmente, diferente das atuais terapias contra a covid-19 que estão sob proteção de patente e são medicamentos caros. Isso permite também que o medicamento possa ingressar imediatamente na categoria dos genéricos.

“O medicamento pode ser fabricado por mais de um fabricante, pode ser distribuído a todos que precisarem dele quando necessário, e não ter que esperar por negociações de licenciamento às vezes lentas e dolorosas, que as empresas podem ou não estar dispostas a fazer”, complementa Mowbray.

Os achados da pesquisa também já chegaram a ser utilizados comercialmente, uma farmacêutica japonesa usou dados para ajudar a desenvolver o antiviral Ensitrelvir, que tem aprovação para uso de emergência no Japão.

Após a divulgação dos resultados do projeto a Drugs for Neglected Diseases Initiative assumiu a liderança no desenvolvimento pré-clínico do composto, intitulado DNDI-6501. Paralelamente os cientistas voluntários que participaram do consórcio também seguem com pesquisas para antivirais orais – não só para o Coronavírus – inclusive o grupo recebeu em 2022 uma doação de 69 milhões de dólares dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos.

“Se estivermos preparados para compartilhar o que estamos fazendo entre nós, provavelmente teremos uma chance muito maior de ter os candidatos aos medicamentos certos prontos quando forem necessários”, reflete Matthew Todd, químico da University College London e fundador da Open Source Pharma.

Este texto é um conteúdo adaptado, publicado originalmente pela MIT Technology Review nos Estados Unidos. Disponível em:
https://www.technologyreview.com/2023/11/10/1083222/covid-moonshot-drug-discovery-open-source/

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