“Hospital inteligente” usará real-time e IA
Por MIT Technology Review Brasil
Impulsionados pela pandemia de Covid-19, os serviços de saúde evoluíram bastante no quesito digitalização. Uma consulta online, por exemplo, que até pouco tempo sequer era uma opção para médicos e pacientes, hoje já faz parte da rotina de muitas pessoas. Daqui em diante, para onde vamos? Você já parou para pensar como será o hospital do futuro?
Imagine a seguinte cena: você chega em determinado local para uma consulta previamente agendada. Você se identifica e passa usar um dispositivo semelhante a um fone de ouvido sem fio. A tecnologia vai lhe passar todas as coordenadas de onde ir. Se você chegou cedo, a ferramenta pode te dar a opção de ir tomar um café ou de adiantar a consulta, caso o sistema identifique essa disponibilidade. O dispositivo também consegue mensurar sua frequência cardíaca, pressão arterial e temperatura. Os dados são compartilhados com a instituição.
Essa dinâmica no ambiente hospitalar é um exemplo que se encaixa no conceito de arquitetura do sistema em tempo real (real-time architecture system). Ele é alcançado quando, apoiada na tecnologia, a instituição tem a capacidade de se reorganizar com agilidade para atender a demandas específicas de maneira personalizada: ela detém a informação, faz seu processamento e executa a ação. Seria como um “hospital inteligente”.
Para o médico e superintendente do departamento de Ciência de Dados e Analytics do Hospital Albert Einstein, Edson Amaro, implementar integralmente um modelo de arquitetura amparada por recursos tecnológicos significa obrigatoriamente avançar muitos degraus na escada de digitalização da saúde.
“Precisa haver base de dados organizadas e, de certa maneira, uma visão mais data-driven para se chegar nesse nível. É como se eles fossem habilitadores desse real-time. Eu vejo, realmente, o hospital funcionando de maneira muito orgânica, muito harmônica. Fundamentalmente, é mais integração por meio de tecnologia”, afirma.
Amaro também destaca outra área que poderia se beneficiar com o uso de Inteligência Artificial (IA): a logística na cadeia de suprimentos, como o controle de estoque e distribuição ágil sob demanda.
“Nesse sistema de real-time, a dinâmica do hospital tem ajustes naquele dia. Não estou falando de comprar seringas porque eu internei dois pacientes hoje à tarde e preciso de mais duas seringas amanhã. Ainda não. Mas posso falar de ajustes de doses, ajustes de salas. Quando temos uma pessoa internada, podemos estimar quantas luvas será preciso gastar para cuidar dela, considerando médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem. Nos preparamos para isso, mas não temos a noção exata. Podemos usar dados para fazer a estimativa, mas se você chegar lá e naquele dia houver uma intercorrência? Há coisas que não são tão fáceis de predizer e para elas entra o sistema de real-time, para você recuperar a capacidade operacional”, exemplifica o médico.
Além de evoluir em digitalização, ainda há uma série de questões a serem discutidas. “Será que o sistema de identificação da posição do paciente, como no exemplo do ponto de ouvido, está otimizado para a quantidade de energia que ele consome? Será que temos pontos cegos no hospital? Será que o esforço para implementar isso, que é muito grande, compensa? Às vezes, você tem concierges, pessoas que trazem um componente humano, que tranquilizam. Você não vai conseguir fazer isso tão fácil com um ponto no ouvido. Então, temos que pensar no equilíbrio para o uso da tecnologia”, pondera Amaro.
Diante dos desafios, ele acredita que, no caminho para arquitetar essesistema, o hospital deve priorizar soluções tecnológicas que garantam desfechos clínicos mais satisfatórios.
A gerente médica de Experiência do Cliente de Medicina Diagnóstica e Ambulatorial do Einstein, Flávia Camargo, avalia que soluções mais simples podem ser aplicadas para otimizar a jornada do paciente enquanto o hospital ainda não está pronto para executar alternativas tecnológicas mais complexas.
A adoção de inovações mais disruptivas também precisa considerar o perfil dos usuários: há aqueles que possuem pouca ou nenhuma afinidade com a tecnologia, mas há também aqueles que, justamente por fazerem uso excessivo de aparatos tecnológicos, desejam contato pessoal quando buscam um serviço de saúde.
“Ser exclusivamente digital é muito pouco provável porque o cuidado com a saúde é extremamente humano, e a tecnologia será um meio para facilitar esse contato. Tem gente que ainda prefere ligar, tem gente que prefere agendar algo por WhatsApp e tem gente que prefere fazê-lo através de autosserviço. O interessante é conseguir criar estratégias que atendam às expectativas e os desejos diferentes que as pessoas têm”, avalia Flávia Camargo.
?Este texto é um conteúdo adaptado, publicado originalmente pela MIT Technology Review Brasil. Disponível em: https://mittechreview.com.br/hospital-inteligente-usara-real-time-para-ir-alem-da-predicao/
GileadPro: BR-UNB-0683