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Otimizando a doação de órgãos com IA

Estudante de doutorado do MIT cria plataforma de dados para impulsionar captação de órgãos nos Estados Unidos, com foco em melhorar inequidades


Por MIT Technology Review Brasil

Um transplante de órgão é uma questão de vida ou morte. Esta “segunda oportunidade”, contudo, depende da disponibilidade, compatibilidade e proximidade de um recurso precioso que não pode ser simplesmente comprado, cultivado ou fabricado – pelo menos não ainda. A complexidade logística e ética da distribuição de um número limitado de órgãos para uma lista de espera crescente de pacientes tem recebido grande destaque. Porém, há uma parte importante do processo que recebe menos atenção e que pode conter um potencial significativo inexplorado, que é a captação dos órgãos.

Nos Estados Unidos, organizações sem fins lucrativos chamadas OPOs são responsáveis por encontrar e avaliar potenciais doadores, interagir com as famílias enlutadas, com as administrações hospitalares e entregar órgãos – tudo isso seguindo as leis federais. Estudos recentes estimam que obstáculos e ineficiências fazem com que milhares de órgãos não sejam doados todos os anos.

Pensando nisso, o estudante de pós-graduação no programa de doutorado em Sistemas Sociais e de Engenharia (SES) do Instituto de Dados, Sistemas e Sociedade do MIT (IDSS), Hammaad Adam, liderou um projeto para criar um conjunto de dados chamado ORCHID: Organ Retrieval and Collection of Health Information for Donation. A plataforma reúne informações clínicas, financeiras e administrativas de seis OPOs.

Adam vem pesquisando sobre o uso de ferramentas estatísticas para descobrir desigualdades nos cuidados de saúde e no desenvolvimento de abordagens de aprendizado de máquina para resolvê-las, e agora aplica isso aos transplantes de órgãos – onde se observa um descompasso: a maioria dos pacientes em lista de espera não são brancos, ao contrário dos doadores, em sua maioria brancos. Algo que, segundo o pesquisador, ocorre por vários obstáculos que necessitam de uma melhor compreensão para serem superados.

“Meu trabalho em transplante de órgãos começou no lado da alocação, no trabalho em análise. Examinamos o papel da raça na aceitação de ofertas de transplantes de coração, fígado e pulmão por médicos em nome de seus pacientes. Descobrimos que a raça negra do paciente estava associada a chances significativamente mais baixas de aceitação de ofertas de órgãos – em outras palavras, os médicos transplantadores pareciam mais propensos a recusar órgãos oferecidos a pacientes negros. Esta tendência pode ter múltiplas explicações, mas é preocupante”, observa Adam.

A pesquisa também descobriu que a correspondência racial entre doador e candidato estava associada a chances significativamente maiores de aceitação da oferta, uma associação “destaca a importância da doação de órgãos de comunidades de minorias raciais e motivou nosso trabalho na aquisição equitativa de órgãos”, destaca o estudante.

A criação de uma base de dados como o ORCHID implica em resolver problemas em múltiplos domínios, do técnico ao político. Tentativas semelhantes não conseguiram superar o primeiro passo que é a obtenção de dados. Neste projeto, felizmente é crescente o número de OPOs interessadas em colaborar.

“Tivemos a sorte de ter uma parceria forte com as OPOs e esperamos trabalhar juntos para encontrar informações importantes para melhorar a eficiência e a equidade”, afirma o professor de ciência da computação do MIT Marzyeh Ghassemi.

O valor de um banco de dados como o ORCHID está em seu potencial para gerar novos insights, especialmente por meio de análises quantitativas com estatísticas e ferramentas computacionais como aprendizado de máquina. O valor potencial do ORCHID foi reconhecido com o Prêmio MIT para Dados Abertos, um prêmio das Bibliotecas do MIT que destaca a importância e o impacto dos dados de pesquisa que são compartilhados abertamente.

“É bom que o trabalho tenha tido reconhecimento. Acredito que há um impacto real na divulgação de dados publicamente disponíveis em um domínio importante e pouco estudado. Estou muito interessado em entender os gargalos no processo de aquisição de órgãos, como parte da minha pesquisa de tese, estou explorando isso modelando a tomada de decisões de OPO usando inferência causal e econometria estrutural”, explicou Adam.

Utilizando os conhecimentos desta investigação, Adam também pretende avaliar as mudanças políticas que podem melhorar a equidade e a eficiência na captação de órgãos. Ele também está animado para ver como outros pesquisadores podem usar os dados para resolver as ineficiências. “Cada doador de órgãos salva entre três e quatro vidas”, diz ele. “Portanto, cada projeto de pesquisa resultante deste conjunto de dados poderá causar um impacto real”.

Este texto é um conteúdo adaptado, publicado originalmente pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos. Disponível em
https://news.mit.edu/2024/hammaad-adam-growing-donated-organ-supply-0411

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