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Úteros artificiais

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Úteros artificiais podem garantir o desenvolvimento de bebês prematuros?


Por MIT Technology Review Brasil

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o nascimento prematuro é hoje a principal causa de morte infantil. A estimativa é de que represente um em cada cinco de todos os óbitos antes dos 5 anos de idade. Entre 2010 e 2020, foram 152 milhões de partos de bebês prematuros em todo mundo. Os dados fizeram com que a OMS emitisse em 2023 um alerta para o que chamou de “emergência silenciosa”.

Usando tecnologia cientistas tentam encontrar uma forma de ajudar bebês que nascem antes da hora: o útero artificial é um dispositivo médico experimental destinado a fornecer um ambiente semelhante ao do útero humano para bebês extremamente prematuros. A ideia é que eles possam seguir se desenvolvendo, mesmo após o nascimento, flutuando em uma bolsa biológica transparente e cheia de fluídos.

Um dos principais fatores limitantes para a sobrevivência de bebês extremamente prematuros é o desenvolvimento pulmonar. Em vez de respirar ar, no útero artificial os bebês teriam seus pulmões preenchidos de líquido amniótico produzido em laboratório, uma imitação do que eles têm no útero real. Além disso, seria possível inserir tubos nas veias do cordão umbilical para permitir que o sangue do bebê pudesse circular e ser oxigenado.

Há pesquisas em curso em vários países da Europa, na Austrália, no Japão, no Canadá e nos Estados Unidos. O útero artificial que está mais próximo de ser testado com um bebê humano é o da empresa Vitara Biomedical, criado por Alan Flake e Marcus Davey do Hospital Infantil da Filadélfia. Chamado de EXTrauterine Environment for Newborn Development, ou EXTEND. Ele já foi testado em cerca de 300 fetos de cordeiros, e apresentou bons resultados: os animais conseguiram se desenvolver dentro da bolsa biológica por três e até quatro semanas.

Ainda assim, os pesquisadores não conseguem afirmar se o EXTEND funcionará com humanos, contudo a equipe estaria pronta para solicitar o início de testes ao FDA (Food and Drug Administration) – já que para avançar com testes em bebês, o EXTEND precisa de uma autorização emitida pelo FDA, que é a agência regulatória norte-americana.

Em setembro os consultores do órgão reuniram-se para debater o tema e ficou claro que o FDA só irá autorizar um ensaio clínico quando estiver convencido de que o sistema é capaz de ofertar um desfecho pelo menos igual ao atual padrão de atendimento de uma UTI Neonatal.

“A questão mais difícil de responder é até que ponto esse desconhecido é aceitável”, disse An Massaro, diretora neonatologista do FDA. Essa é uma questão com a qual as entidades reguladoras terão de lidar à medida que a pesquisa sai do contexto laboratorial e começa a ser aplicada em humanos.

O EXTEND provavelmente seria usado primeiro em bebês nascidos com 22 ou 23 semanas, que não têm muitas outras opções: “você não quer colocar neste dispositivo um bebê que, de outra forma, se sairia bem com a terapia convencional”, diz George Mychaliska, cirurgião pediátrico da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, que pesquisa uma tecnologia similar ao EXTEND.

Nesta fase da gestação os bebês são pequenos, muitas vezes pesando menos de meio quilo, e seus pulmões ainda estão desenvolvidos. Os prematuros desta etapa que sobrevivem têm um risco aumentado para problemas neurológicos, paralisia cerebral, problemas de mobilidade e deficiências auditivas.

Em entrevista à MIT Technology Review, o médico também mostrou preocupação com sangramentos cerebrais. “Isso se deve a uma série de fatores – uma combinação de sua imaturidade cerebral e, em parte, associada ao tratamento que oferecemos. Os bebês em um útero artificial precisariam tomar um anticoagulante para evitar a formação de coágulos no local onde os tubos entram no corpo. Acredito que isso coloca um bebê prematuro em um risco muito alto de sangramento cerebral”, analisa Mychaliska.

Outro ponto são questões éticas. “Esta é uma questão que surge com muitas terapias inovadoras. Imagine que uma mulher queira interromper a gravidez e esta tecnologia esteja disponível. Como isso afetaria o direito da mulher de escolher se quer levar a gravidez até o fim? Quando dizemos que uma mulher tem o direito de interromper a gravidez, queremos dizer o direito de se separar fisicamente do feto? Ou queremos dizer o direito de não se tornar mãe biológica?” questiona Vardit Ravitsky, bioeticista e presidente do Hastings Center, um instituto de investigação em bioética.

A criação de um útero artificial levanta todos os tipos de perguntas: “o que é um feto, o que é um bebê, o que é um recém-nascido, o que é nascimento? Se não começarmos a pensar nisso, teremos muitos pontos cegos”, alerta a pesquisadora.

Este texto é um conteúdo adaptado, publicado originalmente pela MIT Technology Review nos Estados Unidos. Disponível em
https://www.technologyreview.com/2023/09/29/1080538/everything-you-need-to-know-about-artificial-wombs/

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