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COVID-19

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Pesquisa brasileira identifica possíveis causa e combate para a perda de memória pela COVID-19

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, ainda no ano de 2020, um dos efeitos mais relatados por infectados pela COVID-19 intriga pesquisadores, médicos e o público geral: a perda de memória. Agora, com a publicação no último mês de março, na revista Cell Reports, de estudo liderado por pesquisadores brasileiros da UFRJ/UniRio, esse mistério ganha contornos mais claros e científicos, além de mostrar como pode ser revertido. E o responsável pelo fenômeno seria a conhecida proteína spike – tão característica do vírus que impactou o mundo.

Na verdade, a anamnese e a dificuldade cognitiva, com inúmeros lapsos, têm se dado em pessoas com a chamada síndrome de covid longa, cujos mecanismos e desdobramentos ainda não são plenamente conhecidos pela comunidade científica – e seguem sendo alvo de incontáveis estudos em todo o mundo. Os relatos costumam se dar meses após a passagem da doença pelo sistema imune, fazendo do pós-doença um período de muita incerteza para aqueles que se recuperam. Segundo dados da Fiocruz, 50% das pessoas infectadas desenvolvem covid longa – que também pode ter impactos nas funções respiratória, neurológica, emocional e cardiovascular; provocando sintomas como alterações no humor, fadiga, tosse, ataque cardíaco, entre outros.

O estudo “SARS-CoV-2 Spike protein induces TLR4- mediated long-term cognitive dysfunction recapitulating post-COVID-19 syndrome in mice” foi levado a cabo por 25 cientistas, liderados por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro e com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Nele, foram analisados camundongos que apresentaram comprometimento cognitivo entre 20 e 45 dias após a infecção pela COVID-19, assim como nos humanos.

O experimento demonstrou que a presença da spike provoca reações destrutivas no hipocampo – área responsável pela memória no cérebro. A spike fica acoplada na superfície do coronavírus, o que a tornou alvo da ação de muitas das vacinas desenvolvidas contra a doença nos últimos anos. Após a infecção, a proteína é transportada por células até a região cerebral, passando por cima da chamada barreira hematoencefálica, onde é feito o controle de entrada de substâncias no cérebro. Uma vez ali, a spike é reconhecida por receptores TLR4 que, como resposta, geram uma inflamação – e é neste momento que o estrago, do ponto de vista cognitivo, acontece. Para combater o agente intruso, as células de defesa destroem as sinapses neurais, o que acaba prejudicando e impedindo a transmissão de informações no cérebro. O resultado deste processo gera perdas cognitivas e lapsos de memória.

Após tais descobertas, as pesquisadoras identificaram moléculas que, quando inibidas, não há esse prejuízo cognitivo e de anamnese. E a partir de camundongos geneticamente modificados foi possível bloquear as moléculas responsáveis pelas perdas de memória. Uma das líderes da pesquisa e neurocientista da Faculdade de Farmácia da UFRJ, Claudia Figueiredo afirma que este pode ser um caminho para a prevenção do fenômeno e explicou mais detalhadamente a reversão: “Nós vimos que animais que tinham uma deleção nessa via não desenvolviam o prejuízo de memória. Foi usado então um inibidor e viu-se que, quando se inibe a via, a proteína spike não exerce essa patogênese sobre essa parte da mente”.

Ainda segundo a neurologista, medicamentos já disponíveis no mercado para tratar a artrite reumatoide poderiam ser testados em pacientes com COVID-19 para analisar uma possível prevenção aos lapsos cognitivos, fazendo a chamada reposição de fármaco. Agora, as perdas de memória, que afetam cerca de 78% das pessoas com a Síndrome de Covid Longa, dependem de mais ensaios clínicos em humanos rumo a uma cura definitiva.

Referências:

Fabricia L. Fontes-Dantas, Gabriel G. Fernandes, Elisa G, et al. SARS-CoV-2 Spike protein induces TLR4-mediated long-term cognitive dysfunction recapitulating post-COVID-19 syndrome in mice, Cell Reports, Volume 42, Issue 3, 2023. Disponível em:
(https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2211124723002000)

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